Como saber quando é hora?
Cada caso é único e deve ser visto como tal, pois cada sintoma só pode ser entendido dentro do seu contexto. Mas há alguns indícios que nos mostram que talvez seja importante levar a criança ao psicólogo.
Muitas vezes a ida dos pais à consulta já ajuda a amenizar o problema, pois são orientados da melhor maneira sobre como lidar com a situação. Mas na maioria das vezes, é necessário um acompanhamento da criança/adolescente.
Como funciona a terapia de crianças e adolescentes?
Existem diversas abordagens e formas de ler o ser humano. Cada linha tem suas particularidades e meios de chegar ao resultado desejado. Geralmente com criança usamos “materiais” para que ela se comunique e expresse o que sente e vive. Muitas vezes ela não sabe se expressar verbalmente, ou não tem conhecimento sobre o que lhe ocorre. Então a melhor forma é através da brincadeira.
Usamos materiais lúdicos que podem ser brinquedos de diversas formas, cores e tamanhos, caixa de areia com objetos, material gráfico para desenho e pintura, jogos de tabuleiro, bolas, bonecas, família de bonecos, entre outras coisas que acharmos conveniente e condizente com aquela historia.
Numa terapia com adolescentes disponibilizamos alguns materiais deste tipo, especialmente os gráficos, mas é mais frequente que a conversa ocorra.
Geralmente, as primeiras sessões são feitas somente com os pais, para que possamos colher toda a informação possível sobre o paciente e entender a dinâmica familiar. Algumas vezes, podemos chamar a família toda para observar melhor as interações. Podemos até mesmo conversar com a escola, com uma avó, ou pessoas que sejam importantes para entender melhor e ajudar no caso.
Depois disto, começamos a ver a criança e passamos a orientar os pais com sessões separadas. No fim do tratamento, encerramos com todos os envolvidos.
Como a brincadeira mostra o problema?
Um sintoma é um sinal que algo não está indo bem, que algo está fora do lugar ou desequilibrado. Por exemplo, uma febre. Febre não é a doença, mas o sintoma de que algo está errado e que devemos ficar atentos e procurar o que a produziu. O sintoma em si é carregado de significado simbólico e as brincadeiras também.
Através do brincar a criança transfere e projeta seus medos, angústias, ideias, sonhos, emoções. Assim, podemos ir desvendando e interpretando tudo que ela nos mostra.
Tudo isto é possível porque o próprio ambiente e a relação com o psicólogo são diferenciados e facilitam essa intervenção.
Quais os sintomas que “pedem por um socorro mais especializado”?
Geralmente, é aquilo que muda repentinamente e sai da rotina, que persiste por um tempo maior e você não entende da onde veio.
1) criança e/ou adolescente calmo e dócil que começa a ficar extremamente agitado, ansioso e/ou agressivo. Morde os amigos, bate, xinga, não para quieto, esperneia.
2) criança e/ou adolescente que chora muito sem motivo ou por qualquer coisa. Ou fica de mau humor, irritada toda hora.
3) criança e/ou adolescente que se isola demais, evita contatos sociais e ficar perto mesmo de quem ela gosta e tem afinidade. Não faz mais amigos e não brinca em conjunto como antes.
4) criança que tem medo de tudo, não consegue dormir a noite sozinha (quando antes já conseguia), exige companhia até para ir ao banheiro, ou passa a mostrar fobias exageradas e repentinas.
5) criança que tem terror noturno todas as noites: grita, chora, esperneia, parece sonâmbula, tem pesadelos frequentes.
6) criança e/ou adolescente que muda os hábitos alimentares: come muito mais ou menos do que antes.
E mais…
7) criança e/ou adolescente que teve uma queda no rendimento escolar e uma piora no comportamento.
8) criança e/ou adolescente que perde o interesse por coisas que antes amava e/ou fica alheia, apática ao que se passa a sua volta, não interagindo.
9) criança que passa a fazer xixi na cama toda noite, range os dentes, ou muda os hábitos já adquiridos, como voltar a fazer cocô somente na fralda.
10) adolescente extremamente tímido que se esconde atrás de redes sociais, preferindo do que sair com a turma.
11) atentar para as reações que a criança apresenta frente a toda e quaisquer circunstâncias que ela viva e seja alheia à sua vontade: chegada de um irmãozinho, separação dos pais, mudança de casa ou de escola, perdas de pessoas queridas…
Há várias explicações possíveis para cada item. Caso seu filho apresente um ou mais sintomas fique atento e observe se isto persiste; identifique o contexto em que ele está e quando se iniciou, e leve-o a um psicólogo.
Não podemos esquecer que as crianças captam tudo que se passa à sua volta. Alguns sintomas podem estar associados ao que ocorre em casa, na escola, com os pais… Às vezes, resolvendo este problema externo o sintoma some. Quando os pais brigam demais, por exemplo, a criança pode apresentar um aumento de agressividade na escola ou se isolar.
Na dúvida, consulte um psicólogo que poderá te orientar da melhor forma e te ajudar a equilibrar a dinâmica da sua casa. A saúde emocional dos membros da família é muito importante!
Um beijo,
Rê Garcia.