O que podemos levar para a vida?
É sempre assim em final de jogo de futebol pelo Brasil: uns torcedores ficam felizes e outros tristes, há bate boca nas redes sociais, no trabalho e nas ruas, pessoas culpando o juiz, o time, o adversário… torcedores de times que nem estavam no jogo tirando sarro de quem perdeu… enfim, uma série de explanação de culpa, ódio e provocações pelos dias seguintes.
E vendo tudo isso, eu penso em várias coisas que o futebol pode nos ensinar para a vida. Aqui vão algumas delas.
1) Culpar sempre o outro pelos fatos que nos dizem respeito.
Quem perde sempre culpa o juiz, o bandeirinha, o campo, o técnico, a bola, enfim, arranja mil desculpas para justificar a perda ou o erro. Será que não seria suficiente assumir que o time não conseguiu fazer mais gols que o adversário? Não é nem questão de jogar melhor ou não (porque sabemos como é o futebol), mas de marcar gols.
**E na vida não somos assim? Muitas vezes somos ainda imaturos a ponto de responsabilizar algo ou alguém pelos nossos erros e não conseguimos sequer ver que nós somos os únicos responsáveis por TUDO que acontece em nossa vida. Seja através de nossas atitudes, nosso silêncio, nossas escolhas, nossa omissão…
É muito mais fácil dar desculpas como “o destino”, os outros, etc. Não está na hora de parar e assumir a própria vida? Os erros e acertos? Sem culpas, mas responsabilidades! Assim, conseguimos tomar as rédeas da nossa vida e controlar (um pouco) os resultados que desejamos atingir. Vamos sair da posição de vítimas?
2) Nem sempre quem é mais preparado ganha.
O futebol ensina isso claramente. Às vezes o time que está se saindo melhor em campo, marcando melhor e atacando mais não consegue finalizar todas as vezes com sucesso, e num pequeno descuido o adversário goleia e ganha! Nem sempre o time favorito é vencedor.
**O que podemos aprender com isso? Podemos aprender que nos preparar bem é essencial, mas temos também que enxergar e saber aproveitar as oportunidades da vida. Sermos mais rápidos, ágeis, inteligentes, criar nossos caminhos.
Nem sempre os bons continuam bons e se saem bem. Cada um tem suas qualidades e pontos fracos; não somos bons em tudo. E se estivermos atentos às oportunidades, podemos aproveitar a chance e nos sobressair. Quem está mais preparado tem mais chances, mas quem está atento, focado, pode conseguir também seu lugar ao sol.
3) Você pode ser muito bom, mas se não souber trabalhar em EQUIPE, pode atrapalhar.
No futebol cada um tem seu papel e sua posição no time, que deve ser exercida com maestria para que todos consigam bons resultados e ganhem. Quando cada um faz bem sua parte tudo flui. Do contrário, um acaba atrapalhando o outro e o andamento do time todo. E se cada um agir sozinho também não vai funcionar.
As posições se complementam e se ajudam. Elas precisam umas das outras para alcançarem um objetivo maior. O problema é quando a pessoa se acha “a melhor” e acha que não precisa de ninguém para chegar ao resultado. Quer ir sozinha, fazer tudo sozinha, e acaba desequilibrando o time e até gerando uma disputa interna e possível mal-estar.
**Na vida, cada um tem seu papel e é de igual importância dentro do todo. É importante exercê-lo com excelência, e mais importante ainda, saber dar espaço para que os outros também exerçam os seus papeis. É necessário aprender a trabalhar em equipe multiplicando as experiências e conhecimentos, e contando com o que cada um tem de bom. É um trabalho difícil, pois nem todos conseguem pedir ajuda, descentralizar seus esforços, demandar ajuda, delegar poderes… Exige persistência e dedicação!
4) É preciso treinar muito para ser bom, principalmente na parte individual, como nos pênaltis.
Uns dizem que ganhar um pênalti é uma questão de sorte, outros dizem que é de talento. Para os jogadores de futebol cada partida é uma chance de mostrar seu “estilo” e afirmar seu talento, mas é na hora dos pênaltis que eles ficam mais visados. Aquele momento único, destacado da partida toda, pode definir o resultado final e mostrar o quanto o jogador está preparado ou não.
**E na vida também pode ser assim: você faz tudo direitinho o tempo todo, mas é aquele momento em que você mais se destaca, quando está na berlinda, que as pessoas mais te avaliam.
Infelizmente, somos mais avaliados pela performance do que pelo caráter. Por isso, não basta ser “bom, preparado e justo”, é preciso muito treino, estudo e dedicação àquilo que se propuser a fazer. Mas nem sempre estar bem preparado é sinônimo de ser bem sucedido (o que reforça o ponto 2), principalmente em momentos onde você está exposto e suscetível ao stress.
Por isso, faz parte do “treino” ter equilíbrio emocional, autocontrole, autoestima elevada, autoconfiança e ter consciência de seus valores e qualidades.
5) Todo fanatismo é perigoso.
Assim como a religião, o futebol tem fãs e seguidores fanáticos. Há aqueles que tatuam o símbolo do time no corpo, viajam até o outro lado do mundo para assistir a um jogo, choram e ficam sem voz quando torcem, passam mal, e há também aqueles que matam pelo time. E morrem.
O fanatismo leva à rivalidade. Cada vez mais vemos as brigas entres as torcidas que acabam com muitas mortes e feridos e as rixas e provocações que nos fazem perder o respeito seja por quem for. Nossas vidas se transformam num ciclo de ódio, baseado no resultado de algo sobre o qual não temos nenhum controle. É algo totalmente emocional.
**Quando gostamos muito de uma coisa, corremos o risco de ficarmos cegos por aquilo. Só conseguimos pensar no que amamos, dedicamos nossa vida àquilo e o defendemos com unhas e dentes. Queremos convencer os outros a gostarem também, e impomos nosso gosto, muitas vezes tendo raiva de quem pensa ao contrário. Mas a barreira entre a sanidade e a loucura é bem tênue e a todo momento deveríamos avaliar se não estamos passando dos limites.
Não está na hora de repensarmos nossas prioridades e valores de vida? Se nossa escolha (time, religião, sexo) é mais importante que as amizades, os relacionamentos, a vida dos outros? Será que não dá para torcer, se envolver, sem fazer disso um jogo de “vida ou morte”, de “melhor ou pior”, sem criar uma “guerra”? Vale a pena tudo isto? Para quê?
6) É difícil respeitar as diferenças.
No futebol, além das brigas de torcida, ocorrem também as “briguinhas veladas”, brigas “psicológicas” como tirar sarro do time que perdeu, fazer algum tipo de trote com quem é do outro time, “chantagear” os filhos para torcerem pelo seu time…
Esquecemos de respeitar a individualidade e vontades alheias, pois não condizem com o que acreditamos ser o melhor (assim como na política).
**Assim como falamos no item 5, quando gostamos muito de algo, defendemos com todo fervor porque acreditamos que aquilo é melhor. Nesta hora, a lógica racional desaparece e o lado emocional fala mais alto. Temos muita dificuldade em aceitar as diferentes ideias, preferências, os diferentes valores. Já percebeu que os grupos são formados por terem coisas em comum e não pelas diferenças?
O problema é quando a diferença vira um foco de discórdia e ódio, gerando conflitos e brigas porque um lado sempre acha que está mais certo do que o outro.
E afinal, existe CERTO e ERRADO ou existem gostos diferentes? Quem poderia julgar sendo imparcial? Por que é tão difícil entender que nada é igual a nós, nem aos nossos gostos, desejos, valores… que não somos o centro do Universo, e por isso, cada um é único e diferente?
7) O grupo (e uma causa) favorecem as ações impulsivas.
É só observar as torcidas organizadas. Conhecendo cada indivíduo pessoalmente, nem sempre os reconhecemos ali no meio dos outros, torcendo e agindo de forma diferente do normal. Já ouviu os pais dizerem aos filhos que o estádio é o único lugar onde eles podem xingar? É mais ou menos isso. Na torcida, no estádio, você pode fazer o que quiser, xingar, brigar, deixar que seus impulsos se exteriorizem. É como se fosse um lugar de catarse.
Será que fazemos sozinhos as mesmas coisas que fazemos quando estamos em grupo? Muitos psicólogos e psicanalistas acreditam que não, que o grupo exerce uma influência que nos tira às vezes do nosso eixo. São vários os motivos – identificação, fortalecimento do ego e autoestima, encorajamento, efeito manada -, que nos levam a fazer o que todos querem, para “nos sentirmos parte do grupo”… Enfim, o efeito é sim, diferente.
**Em grupo, as potencialidades se aguçam e fazemos muitas coisas por impulso. Nos deixamos levar pelo momento, atrapalhando nossa capacidade de pensar e escolher melhor, ponderando as consequências. Brigar, bater, xingar, defender o time, etc., podendo nos prejudicar seriamente com isso.
Temos que ficar de olho nos grupos dos quais fazemos parte, analisar se tem mesmo a ver conosco ou com algo que gostaríamos de TER ou SER. E pensar 3 vezes antes de tomar qualquer atitude quando estivermos dentro deles. Somos nós que queremos ou eles? Eu estou agindo normalmente ou influenciado pela vibe da galera?
Fica para refletirmos.
Um beijo,
Rê Garcia.