Proteger até quando?
Conforme um bebê vai crescendo, os cuidados maternos vão mudando e o tipo de proteção também. E deveria ser assim até a idade adulta, quando teoricamente, conquistamos a independência e somos capazes de nos proteger e nos cuidar sozinhos.
A proteção dos pais é mais do que natural e esperada, mas até onde podem ir sem atrapalhar o desenvolvimento e a independência dos filhos?
Os pais que veem os filhos como se fossem sempre aquelas crianças indefesas e frágeis, independente da idade, acabam superprotegendo a cria. Um exemplo de superproteção é quando seu filho briga na escolinha e você liga na mesma hora para a mãe do coleguinha, para reclamar ou pedir satisfações. Depois, vai até a escola pedir para a coordenadora tomar uma atitude, sem nem dar chance do seu filho tentar resolver a questão do jeito dele.
Para saber quando se está exagerando, uma dica é ver se está querendo antecipar e controlar as situações pelas quais seus filhos irão passar, impedindo assim, que eles vivam aquela experiência e o que você mesma ensinou sobre a vida. E perceber se você não está querendo controlar seus filhos e mantê-los embaixo da sua asa, ou, se está realmente querendo protegê-los de algum perigo externo. Mas é importante avaliar se o perigo é real, e não fantasioso.
Há inúmeros fatores que ajudam a aumentar essa insegurança dos pais: a violência, o fato de terem tido somente um filho, terem tido problemas para engravidar, ou adotado. Inconscientemente, os pais temem perdê-lo.
Mas é importante refletir: será que a superproteção para com seus filhos não tem a ver com você? Não tem a ver com suas inseguranças e medos que está passando para eles? Não tem a ver com seu medo de estar sendo ausente e aí, você tenta compensar com excesso de zelo? Será que você confia em seu filho?
Não estou dizendo que você não deve se preocupar, zelar ou proteger seus filhos, mas olhar para quanto os está sufocando e impedindo que vivam.
Quais as consequências do excesso de proteção?
A pessoa superprotegida geralmente não sabe como lidar com as situações, é mais insegura diante da vida e indecisa diante dos dilemas, sendo levada mais facilmente a fazer escolhas ruins.
Tudo que ela aprendeu foi esperar que alguém resolvesse as coisas por ela ou amenizasse o caminho. Isso atrapalha no desenvolvimento da sua autonomia. Ela começa a se sentir incapaz de fazer qualquer coisa por si mesma e se vê perdida quando tem que enfrentar algo novo, podendo abandonar o que começou. Além disso, acaba esperando essa ajuda de todos, muitas vezes exigindo demais, tornando-se carente, exigente, mandona, e até tirana.
Isso tudo ajuda a criar uma autoestima baixa, gerando pensamentos depreciativos sobre si mesma e sobre a vida. Pode ter uma maior dificuldade em se relacionar com os outros, por timidez e pouca desenvoltura.
Não sabe muito bem como lidar com confrontos, o que pode gerar uma necessidade de se distanciar da realidade ou se isolar num mundo virtual. Pode vir a desenvolver depressão na adolescência ou a idade adulta por causa de sua baixa autoestima e baixa autovalorização.
Às vezes, eles tem um relacionamento complicado com os pais, pois quando se confronta com a realidade, sente raiva deles, culpando-os pela situação em que se encontra.
O que fazer?
1) Sempre que possível, oriente e incentive para que seu filho tome as rédeas da situação e resolva os problemas. Mesmo que leve um tempo. Muitas mães que não tem paciência para esperar que seu filho faça algo, acabam fazendo por ele. Por exemplo, amarrar o sapato!
2) Crie regras, oriente e dê horários para ele cumprir. Vá soltando-o aos poucos, de acordo com a idade e maturidade. Ensine os caminhos, não faça por ele!
3) Ensine-o a lidar com dinheiro desde cedo, dando uma mesada ou o que combinarem.
4) Converse muito com ele. Na adolescência aborde os assuntos polêmicos, fale da sua opinião, experiência de vida e dos riscos de cada escolha. Acompanhe sua vida, mas não a invada.
5) Mostre que o erro faz parte do processo e nos ensina muito. E que sofrer na vida não significa ser infeliz.
6) Prepare-o para o mundo. Deixe-o viajar sozinho, dormir na casa de amigos. Explique os seus receios, mas sempre demonstre e SINTA que confia nele, que confia na educação que lhe deu!
Lembre-se que você o está preparando para a vida, quanto mais experiências ele tiver, mais seguro ele ficará. E quando vier a vontade de colocar seus filhos numa bolha, pense por que está tão difícil pra você vê-los crescer. O que está por trás dessa necessidade de ter todo mundo na barra da sua saia?
Um beijo,
Rê Garcia
*Texto publicado no site parceiro Maternolatra.com.br.