Do lar para o mundo
Na época das minhas avós, as meninas eram criadas aprendendo a cozinhar, tricotar, cuidar da casa e dos filhos. A mulher tinha que ter bons modos, falar baixo, ser discreta e mal podia dar sua opinião. Isso ia sendo passado de geração pra geração por mulheres que realmente não sabiam fazer diferente.
Já minha mãe foi um pouco revolucionária para a época indo trabalhar fora, coisa que nem todas faziam e nem todos os maridos aceitavam. Era o lugar da mulher na sociedade sendo estendido.
Hoje, nosso mundo está mudando esse olhar sobre a mulher e o papel que exercemos. Estamos sim, nos independendo das opiniões e dos estereótipos. Conseguimos trabalhar em quaisquer áreas, não somos mais dependentes de casamentos para nos sustentar. Não somos mais obrigadas a aceitar e nos submeter ao que nos impõem (espero!). Podemos escolher quando ter filhos e se vamos tê-los. Somos mais donas de nosso corpo, estado civil e conta corrente.
Saímos “do lar” para sermos “do mundo”, livres e empoderadas simplesmente por sermos nós mesmas. Mas ainda precisamos lutar para manter isso. Lutamos pelos mesmos direitos que os homens, mas não para sermos tratadas igualmente, pois não somos iguais. Queremos ser vistas como pessoas com os mesmos direitos sociais e capacidades que qualquer outra pessoa. Sem discriminação.
Preconceito existe!
Acredito que não exista uma mulher que não tenha passado ao menos uma vez na vida por situações de preconceito por serem mulheres. Olhares maliciosos, risadinhas debochadas, comentários maldosos, desprezo. Eu passo muito por isso; a cada cidade nova aonde vivo, encontro alguém bem desaforado que demonstra claramente o lugar onde ele coloca as mulheres. E, provavelmente, essa pessoa está repetindo algo que lhe foi ensinado e reforçado.
Os modelos sociais, as falas, os filmes e a cultura na qual estamos inseridos ajudam a criar nossa mentalidade. E ela governa nossas ações e experiências. Então, boa parte disso pode ser resolvida pela educação que as crianças recebem desde pequenas.
Como você anda educando seus filhos e filhas? Ainda usa só as cores rosa e azul pra identificar quarto, objetos e roupa dos pequenos? Ainda separa o que é “de homem” e o que é “de mulher”, como brinquedos, atitudes e gestos? Você sabia que isso nada tem a ver com a identificação dos gêneros e sexualidade?
Brincar com uma bola não nos torna mais masculinas nem brincar com bonecas torna os meninos mais femininos. Somos um conjunto das crenças passadas pelo ambiente em que vivemos, os modelos e identificações que temos, e nossa carga genética e biológica. Muitas vezes a angústia dos pais ao ver o filho “dançando ballet”, ou a menina querendo “lutar judô”, surge porque emerge todo preconceito que eles mesmos viveram na vida e que agora passam para seus filhos como forma de aplacar o medo que sentem.
Os pais devem se preocupar não em educar de forma diferente de acordo com o sexo da criança, mas sim, educar pensando nas individualidades e necessidades das crianças, porque cada ser é único e merece ser visto e respeitado por isso.
Como os pais podem ajudar a criar um mundo sem segregação e preconceito?
Se o casal demonstrar seu amor e respeito pelo parceiro, tratando-o bem, apoiando e valorizando seus projetos, contribuindo na casa, estará dando um ótimo exemplo de como se valorizar uma pessoa. Quando se valorizam, cuidam de si, da vida pessoal e profissional, tornam-se ótimos modelos de como se amar e reforçar seus próprios valores.
Apoiar suas filhas e filhos, incentivando e confiando em suas capacidades e valorizando seus esforços, os forma mais confiantes de si.
Os pais podem ensinar aos filhos e filhas a serem independentes dentro de casa: lavando louça, fazendo uma comidinha básica, tirando o prato de mesa, colaborando na limpeza e organização da casa. Todos tem que ter obrigações iguais, variando somente de acordo com a idade. É bom que eles saibam o quão importante é cada função da casa e saibam agir com independência.
Cabe a nós criarmos pessoas que se sintam com os mesmos direitos e deveres de qualquer outro e que enxerguem as diferenças como forças únicas, e não motivos para competição.
Para a próxima geração, o que eu desejo é que as mulheres continuem femininas, podendo demonstrar sua força interna e que não precisem mais conquistar seu lugar ao sol. E que os homens possam aprender a se olhar como iguais. Que todos possam expressar sua verdade e serem amados e compreendidos, sem serem enquadrados em algum padrão rígido e excludente.
Que paremos de ditar regras e criar cotas porque isso sim, é excluir e discriminar o diferente. E não somos todos iguais em nossas diferenças, angústias e desejos???
Espero que o papel das mulheres nas próximas gerações seja o de conseguir fazer, ser e falar o que quiserem, sem serem julgadas e desrespeitadas. Que as pessoas com mentalidade machistas (homens e mulheres) possam mudar seu modo de ver o mundo e entendam que cada um tem seu valor, sem importar o sexo, raça, ou cor.
Um beijo,
Rê Garcia
*Texto publicado no site parceiro Maternolatra.com.br.