Como falar?
Já reparou como as coisas que as pessoas que gostamos nos dizem podem nos ferir profundamente, criar mágoas, traumas, acabar com relacionamentos e nos desestruturar?
As palavras tem poder. Muitas vezes falamos o que vem à cabeça por impulso, mas o que será que estamos passando pros outros? Será que dá para consertar?
Imagine uma mãe que não está tendo paciência com o filho e numa explosão diz “Por que é que eu fui te ter, hein?” “Oh Meu Deus, que arrependimento!”. Pesado, né? Assim, é fácil imaginar o mal que isso faz para a criança que ouve, certo? Mas e quando falamos coisas ou agimos de uma forma mais “disfarçada”, será que também causamos algum mal à criança? Quais as consequências disso para a vida dela?
Nem tudo que ouvimos de ruim nos abala, pois depende de alguns fatores. Depende da importância que damos à pessoa que fala, da nossa idade, da interpretação que damos, do quanto aquelas palavras combinam com algo que já nos incomodava… Por exemplo, alguma dúvida sobre nossas capacidades.
Na infância isso é mais forte, porque a criança está formando sua personalidade, sua identidade e autoestima e é o ambiente que mais lhe fornece “dados” sobre si mesma. A criança muito pequena tem a mãe como espelho e fonte de identificação, e qualquer coisa que ela lhe fale tem muito mais peso. No geral, pessoas mais próximas e importantes costumam ter mais influência sobre esta formação.
O que ocorre?
O que ouvimos pode ficar guardado em nosso inconsciente e se transformar em crenças que influenciarão a nossa vida. Por exemplo, uma criança que ouve que “é inútil”, cresce e não consegue parar em nenhum colégio, ou se dar bem no trabalho. É como se a crença em sua cabeça fosse a todo momento testada e “comprovada” por ela, mostrando que é verdade o que sempre ouviu! “Não sirvo para nada.”
Temos a tendência de corresponder às expectativas daqueles que amamos, principalmente quando crianças. Ao ouvir algo sobre si, a criança passa a acreditar nisso e se prende ao rótulo, tentando fazer aquilo que esperam dela, mesmo sem ter consciência! Por exemplo, aquela mãe que diz “oh menino bagunceiro!” ou aquele pai que diz “você é a princesinha do papai!” influenciam em como as crianças irão se sentir e agir perto deles e na vida.
Outra coisa que interfere na autoimagem são as comparações que usamos com a intenção de ajudar e incentivar a criança a fazer algo. Por melhor que seja, ela acaba tendo uma referência interna baseada em comparação e não em quem ela é, e isso pode deixá-la insegura em relação a suas capacidades e limites próprios e com sentimento de inferioridade.
Em relação ao elogio, é importante exaltar o esforço e o comportamento da criança, além do resultado. Elogiar a beleza externa pode servir para colocar os padrões alto demais e exigir muito dela. Em vez disso, valorize as habilidades e inteligência. Além disso, o elogio deve ser verdadeiro e não somente para “motivar” a criança. Ela tem que se convencer do que falamos, senão, irá perceber essa mensagem dúbia e se questionar. “Ela disse que sou inteligente, mas não acredita muito nisso. Será que sou?” – atrapalhando sua autoestima e segurança.
O que fazer?
O principal é o que sempre digo: se colocar no lugar do outro e lembrar que as crianças são pessoas! Pratique falar com seus filhos com muito respeito e amor, pensando se gostaria de ouvir aquilo que vai falar.
Seja sempre verdadeiro, não minta, não esconda ou exagere algo que você não sente. Na dúvida, sorria! Melhor calar do que dizer algo que você não acredita e a criança notar.
Quando estiver a ponto de explodir e falar alguma besteira, saia de cena, diga “já volto!”, ou “preciso me acalmar”, ou ainda, “você está me deixando muito nervosa (triste, irritada…), depois conversamos.”
Falar de seus sentimentos é um ótimo jeito de mostrar à criança que você está fora de si, que ela tem que saber respeitar seu momento. E deixar claro que os seus sentimentos não tem a ver com quem ela é, mas com o que ela fez. Explique que ela te provocou uma irritação, mas ela não “é um problema”. “Estou irritada com você pelo que você fez”, e não “Você me deixa louca!”
Em vez de usar “Que feio, assim não! Assim eu fico triste”, use uma linguagem sem julgamento e envolvimento emocional. Diga que aquela atitude no momento não é permitida, “porque não se faz”, ou que “você não quer que ela se machuque!”. Poder escolher sem ser “obrigada” para não deixar alguém que ama triste, é aprender o caminho da responsabilidade e regras sociais.
E sempre enxergue seus filhos, olhe nos olhos deles e lhes dê amor, com ou sem palavras. Demonstre e fale o quanto eles são importantes para você, o quanto são únicos. Fale que serão sempre amados e bem vindos na sua vida. Que você estará sempre ao lado deles e que reconhece as pessoas maravilhosas que são.
Um beijo,
Rê Garcia
*Texto publicado no site parceiro Maternolatra.com.br.
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